3 livros sabios

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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O TCC que eu devia estar lendo.


Para este período, peguei um TCC de Biblio, uma Tese de psicologia e um livro introdutório sobre Arqueologia, três áreas de conhecimento um tanto distintas pelo qual tenho alguma consideração especial  (não dá pra chamar Biblio e Arqueologia de ciências! Por definição até são, mas em nosso universo utilitário e de praticidades isso não é uma verdade), venho me interessando cada vez mais por temas alheios  a minha graduação. Quando tudo  isso que me envolve terminar quero fazer de novo,  alimentar os pequenos brotos  universitários que me envolvem, talvez psicologia fosse uma boa. Minhas auto-psicoanalises deixariam de ser tão amadoras e quem sabe se tornassem tão perturbadoras como tento construí-lás, não pelo embrutecimento das palavras e mais pelo poder de critica.

Retomando, o TCC, por incrível que pareça foi orientado pelo professor Milanesi!

Numa dúvida a ser respondida, achei que isso nunca tinha ocorrido, que ninguém tinha ido para além da conjecturação de se fazer algo desse tipo. Como precisava ter certeza fui ao Lattes.  Mas nada encontrei para além dos Mestrados e Teses, ao que tudo indica aos profetas não cabe a figuração de se orientar tcc’s.

Fui a Biblioteca, usar aquela base local em WinIsis, a ecalive (não gosto desse nome!) e procurar, indícios, quem sabe um PDF, e lá encontrei ao menos dois TCC’S, um sobre informação pública e o outro sobre a criação do departamento de cultura e a secção de bibliotecas na era Mario de Andrade!

Como foi só isso que discuti (leia-se um ano de aulas desprezíveis. Fiz Politica Cultura –NÃO FAÇA- E  Biblioteca Informação e Sociedade –FAÇA COM RESALVAS-) com a turma e o bendito professor, pensei seriamente em algumas hipóteses que conectavam os temas dos tcc’s e o professor.

1º Hipótese  - Ele repete isso todo ano a zilhares de anos! De modo que em algum momento um corajoso aluno, munido de seu patrono anti dementador  foi até “o profeta” (como também é chamado) e pediu a orientação para um trabalho  que ele tenta enfiar nos alunos a todo custo!

2ª Hipótese – Tocado por corajosos alunos que souberam romper o cordão de insultos e maledicência que o cerca, o professor se tornou um aedo destes dois temas que o tocaram profundamente.

3º Hipótese – Nada disso!

4º Hipótese – todas as anteriores meio misturadas (inclusive “Nada disso”).

Ainda estou amalgamado na 4º, esse sofisma ninguém me tira.

Sabendo agora de suas existências profanas, fui até a prateleira de tcc’s (que só existe até 2001) e peguei o que me pareceu mais interessante:

O Bibliotecario Mario de Andrade: Analise das politicas culturais da Divisão de Bibliotecas do Departamento de Cultura e seu reflexo nas políticas governamentais para as bibliotecas públicas pós década de 30

De Henry Alexandre Durante Machado, entregue em dezembro de 2001.

Agora que cheguei na Página 48, posso fazer algumas considerações!

O trabalho não segue quase nada de nenhuma norma que eu conheça!  E provavelmente nenhuma que eu desconheça.  Exemplos:  As imagens/fotografia do Mario não possuem legendas e nem estão descritas em tabela nenhuma, o Sumário tá errado, o tcc veio direto da banca com a folha de correção dos jurados grampeada (tirou 9,5 com os três) o espaçamento, a titulação e a forma de citação também fogem as regras!

Éhhhhh, de fato, esse era melhor que outro, me lembra um pouco mais de mim, que venho me “normatizando nos últimos dois anos”.

 O tema é bem desenvolvido, não há divagações em reconstituições desnecessarias, a bibliografia é muito boa (e, portanto não bibliotecária!), etc, etc tô pagando um pau!  Depois de ver o menino elucubrando Alfredo Bosi para explicar as distinções entre cultura Erudita, de massa e popular (variações e sobreposições) minúcia por minúcia, com argúcia suficiente para tomar isto em seu beneficio discursivo, notei o toque milanesico. Talvez a maior preocupação do orientador tenha sido “fale do que sabe! E saida MESMO do que fala, faça o texto de maneira que ele se revele objetivo por objetivo sempre em direção a uma ideia geral”. Deu certo. Espero na Hora de fazer o meu conseguir agir nesse sentido.

Lecture Dans Un Grenier.

Antes que me chamem pervertido, saibam que este foi um exercício de interpretação sobre os gestos da Leitura ao longo do tempo (Através de imagens) Proposto pela Professora de História da Leitura (Que eu parcialmente assistí como Ouvinte) e eu fíz de uma imagem apenas, num total de três pra poder exercitar algo que devia ter aprendido em Documentação Audiovisual e que "oh meu Deus" Não aprendi.


Pierre Pelot - Lecture dans un grenier

Sobre a falsa transparência da Imagem. Descodificar não é ler. Reconhecer e perceber as tensões internas e externas das linguagens é um principio para a leitura, e o primórdio da interpretação. Partamos daqui, descodificar esta imagem produzida não é interpreta-la, nem lê-la, visto que a simultaneidade sígnica das imagens nos aflige por sua experiência de totalidade,por nossa resuma abstrativa em detrimento de contratos de realidade, e porque ainda cremos ingenuamente que a imagem é expressiva e fiel, mesmo quando é fabricada.

A imagem nos apresenta uma outra espécie de argumento,  um que nos parece menos  seguro, que não se constitui de  sucessivas  no tempo, que não tem seus sentidos multiplicados em série;  possui outras ressalvas temporais,  mobilizando outros  mundos  e outras formas de leitura. Usualmente a imagem é toda polissemia, falsa transparência, um engodo aos sentidos, aparenta simplicidade se camuflando em cavernosas e complexas confrarias de sentidos.

Analise da Imagem.

Alias, a imagem é essa aqui 


Retirada e melhor Vista aqui - Lectures Dans Un Greniere - Deem uma olhada na Pagina original da imagem, lá vc encontrará centenas de imagens de mulheres lendo.

                                                                .........................

A explicação do que se vê. – o parece-nos evidente? Sem as atribuições e imputações da interpretação, a analise de uma imagem pelo que se vê parece muito simples, seguindo o caminho da redução e topicação.

 Quem? – Uma moça ruiva
 Como – Pelada lendo
 O que? – Lendo um livro fumando e bebendo
 Onde? – Muito Provavelmente em um celeiro
 Quando? – Não é possível saber.

Aplicando um pouco de interpretação, inserindo percepções e analisando contextos, temos aqui uma jovem ruiva, nua em pelos que lê calmamente em companhia duma garrafa de bebida provavelmente alcoólica, sentada sobre uma espécie de estopa laranja, sem nenhuma uma pilha de roupas à mostra, além de seus grandes óculos (postos a cabeça, logo acima duma faixa ao estilo motoqueira) indicando uma mobilização prévia para a ação, bem como a presença de louça (não nos deparamos com uma invasão) provavelmente este é o celeiro da Moça ou de um parente, talvez um espaço usual, um espaço de hábito.

Aplicando um pouco de Imaginação interpretativa - Uma jovem de madeixas muito rubras em expendida nudez libertadora (sem intenções sexuais) significa um grupo de ações que reivindicam para a cena uma emancipação libertadora; a nudez, o vício, a leitura e o autocontrole são postos em cena, emoldurados por um cenário peculiar, segundo o nome da tela, “um celeiro”, que teima um segundo plano para si! Um celeiro que admite aprovação para apenas uma pequena parte da explosão ofuscante de luz do exterior, não há arvores, nuvens, cenários, apenas luz que se introjeta no ambiente clarificando a visibilidade da situação, não há luz de dentro, só a que vem de fora! Não há uma lâmpada candeeiro ou fonte paliativa de luminosidade (esse tempo é um recuo em direção a desmodernização do tempo). As sombras e o que parece ser a ponta duma escada muito esticada indiciam a altura do espaço. Os objetos em cena configuram-se como que pensados previamente para ali estar, não foram trazidos todos ao mesmo tempo (a escada), a leitora os tinha em mente, talvez estejamos diante de um habito! Um ato cerimonial de libertação? Se bem que os seus grandes óculos e faixa remontam para uma exterioridade não parece se encaixar com o rural a sua volta, teríamos aqui uma leitora voltando a suas origens? (Só adentraríamos mais a especulação) Uma moça que retorna ao ambiente rural em busca duma liberdade que só é possível remontando as suas raízes, que se manifesta na tensão em vicio e virtude? Entre perpetrar e fazer a revelia?