3 livros sabios

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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sobre homens e livros...

Este texto pertence a Marcia Martins, atualmente (para nossa sorte! e talvez azar dela.) aluna do curso de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações Artes da USP.

E foi com certeza, a melhor resposta que já recebi para um email que enviei! Segue o texto tal e qual me foi enviado.

Sobre homens e livros...


    Lembro-me quando estudava teatro e naturalmente apreciávamos mais as aulas de práticas corporais, onde o professor nos deixava jogar amarelinha, pega-pega e fazer “ameba” (a deliciosa ameba sempre merecerá um capítulo a parte) ou invés da disciplina História do Teatro, em que após muita retórica, muita teoria a professora um dia sem mais nem porque sentenciou que deveríamos ter uma biblioteca de mil volumes para nos tornarmos pessoas intelectual interessantes. A idéia me soava tão absurda a época, menos pelo fato de morar em uma moradia estudantil com um espaço exíguo de duas prateleiras na escrivaninha, mas pelo fato de que não me parecia razoável ler mil livros nem tendo uma longa vida. Acho que no fundo tinha convivido demais com pessoas que ostentavam bibliotecas de lindos volumes, edificantes, de capa dura e moldura refinada, mas que pouco havia lido-os todos ou mesmo traçado um diálogo com os autores premiados com uma leitura mais reflexiva (é preciso diálogo com livros assim como com as samambaias e orquídeas para que cresçam felizes). Então ser intelectual é ter mil livros? Não necessariamente lê-los, mas possuí-los como cabe e serve bem a sociedade de consumo capitalista. O importante é ter e, acompanhando este raciocínio, passamos a possuir coisas e não ideias.

    Depois é claro, precisamos acomodar todas essas almas na estante de preferência bem visível como gostamos cada vez mais de expor marcas, logos e grifes, tudo organizado, classificado, catalogado, limpo, esterilizado... estéril.
Ideal mesmo seria arrumar mais espaço dentro de si pra novas idéias, isso: “menos livros, mais ideias”, mais diálogo, mais espaço pra almofadas e futtons pelo chão para receber amigos, mais voz e menos leitura silenciosa. Quando Spielberg ganhou o seu primeiro e tão esperado Oscar fez um discurso de agradecimento em que se culpava de ter lido pouco, melhor por pertencer a uma geração que leu pouco, que se formou por imagens prontas, alegava ter visto muito mais filmes que livros durante toda a vida e que seria necessário ler mais, muito mais. Hoje não sei se concordo tanto quanto na época com ele ao ver que algumas cenas de E.T., A cor púrpura e A.I. levaram-me a emoções que poucos livros conseguiram despertar.
    Não pude deixar de me atear a inquietante dúvida da autora sobre onde acomodar seus Llosas no V ou no L, talvez ela pudesse consultar nosso respeitável representante docente de catalogação que fez uma “esclarecedora” explanação sobre a catalogação de Machado de Assis ou seria melhor dizer Assis, Machado de ... pobre Joaquim Maria.




“Os livros na estante já não tem mais tanta importância, do muito que eu li do pouco que eu sei, nada me resta...” (Herbert Vianna)
Marcia Henrique

2 comentários:

  1. Não sei se já tenho intimidade com vc o suficiente para isso, mas vou dizer, sinceramente, qual é o meu problema com os últimos textos do seu blog: vc parece querer desesperadamente defender uma forma de comunicação em detrimento da outra.

    Vc se sai melhor falando e sabe disso, então falar é melhor que escrever; falar é melhor que ler. Não, não é. Assim como escrever não é melhor que falar. São meios de expressão que se complementam, e a cada pessoa cabe sua preferência, mas não um juízo de valor arrogante.

    Falando sobre este último texto, concordo com a Márcia a respeito do absurdo dessa ânsia pelo "ter". Muita gente compra determinados títulos com o intuito de impressionar, posar de intelectual etc etc, mas se a resposta foi motivada por aquele post que vc me enviou sobre a moça que tinha problemas de espaço nas estantes, acho que não procede.

    Ela não me parece o tipo de pessoa que compra por comprar, mas sim alguém que tem prazer em ler e cuidar dos seus livros. Se ela gosta de organizá-los após a leitura da forma que melhor lhe convir, qual é o problema? Ela se torna automaticamente uma "bibliófila no mau sentido" por conta disso? Também sou, então. Mas com todos os livros da estante lidos.

    Há pessoas que, como eu, conseguem pescar mais ideias através dos livros do que através de conversas e para quem a frase “menos livros, mais ideias” soa absurda. Há pessoas que, como vc e, provavelmente, como a Márcia, preferem o diálogo. E não há nada de errado nisso. O ideal seria o equilíbrio, mas caso este não se estabeleça, não há motivo algum para o uso de um tom de superioridade. Em ambos os lados. Não é uma questão de decidir o que é melhor ou pior, apenas de entender que determinadas coisas são mais adequadas a determinadas pessoas.

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  2. Olá cara(o) Owl, sou a Marcia do texto acima, que aliás tinha o teor tão "de conversa íntima" que me surpreendeu sua postagem em um blog (nem fui poupada dos erros do meu português ruim, rs), mas enfim tentei relê-lo com olhos não meus e conclui que sim, parece que estou fazendo a apologia do "queimem seus livros", mas não, não é bem assim.
    O que houve e há é um momento muito específico da nossa formação como bibliotecários de indagações e frustrações pela total ausência de dialética em nosso curso. De fato estamos nos ressentindo da falta de comunicação em uma escola que a traz em seu próprio nome. O caso do casal e a resolução da acomodação de seus livros só me serviu como mote para investigar na memória um caso semelhante e uma colocação ainda mais infeliz como recordação, não há, portanto, nenhuma crítica direta a situação que afinal, acho que teve uma solução bastante razoável.

    Enfim, não odiamos livros, nem tão pouco seríamos irascíveis a ponto de ignorar a contribuição inestimável de muitos deles a cultura e ao imaginário humano e não esquecendo que, se isso fosse verdade, seria ao menos um sentimento ironicamente sádico já que devemos passar boa parte de nossas existências cercada por eles.

    Abraço

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